Volto já


Vou ali num instante buscar um novo Ano.
Venho já, já.
Ah! E de caminho trago um pacote de felicidade que dá sempre jeito.
Até 2009.

Mesmo a acabar


A dar as últimas, a queimar os últimos cartuchos, um rol de pequenas coisas que se tentam completar para a idéia de satisfação pessoal. Escada acima, escada abaixo. Quanto mais se sobem os anos mais se desce na vida.

Ser ou não ser, é Mesmo a questão



O fascinio da condição humana é encontrar-se a cada instante uma plasticidade maleável que lhe aviva a cor, o alcance, a transformação. Na verdade, não somos dotados de alguns mecanismos de defesa e encanto como certos animais mas, temos uma capacidade extraordinária de sobrevivência à dor, à maldade, à mentira e até acabamos por tirar proveito delas, sendo que nalguns casos, mistificamos a coisa, justificando-a (e a nós próprios), resultando rotulá-las de virtudes. Depois existem as outras, as genuínas virtudes e como bom artista que o homem é, maneja-as de adjectivação de quantidade, como se fosse possível ser muito honrado ou superlativamente sincero. Ou se é ou então melhor que não se seja mesmo.

Vaidade


Sou vaidosa. Assaz. Confessadamente, gosto-me. Mas não do prisma narcísico ao ponto de ignorar a beleza do que me rodeia e dos que me são de afectos. Gosto de mim para poder apreciar os outros e para que os outros me gostem. É importante que os outros nos gostem, e por muito que aí se diga que não interessa, é mentira, uma mentira deslavada de quem não se estima a si mesmo e se refugía para na 1ª oportunidade ter o ensejo de atacar o alheio. Gostar do que somos provoca uma reacção em cadeia, desenvolve estímulos, enriquece o discurso, ilumina o olhar e aperfeiçoa a essência das relações.

Quem foi (que se acuse)


Os principes e as princesas. Quem desencantou estas histórias que me esclareça.
Foi um homem feio? Ou foi uma mulher bonita que passou por um coma só para não ver o homem feio? Foi uma donzela esquecida? Ou foi um publicitário que pôs a mulher embruxada só para lhe calar os (magros) (dele) predicados? E a má da fita? Não é a que leva a melhor parte na grande parte da história? E o dragão? Não é o que incendeia a atenção de quem lê?
Provavelmente é tudo uma questão de prioridades. Nem sempre o que é urgente é importante.

Personagens


Os espaços da mente são os que mais gosto de mobilar. Um luxo. Enchem-se de pequenos nadas para compor o décor ou pontilham-se de um, dois pormenores em que se agarre o interesse. Depende de como me apetece. Mas preciso sempre de áreas em que nada se coloque. Só a vista, ou melhor referenciando, só o divagar. Aí posso articular a oratória, apreciar o silêncio que o aparente vazio varre de tudo o resto, sem me embaraçar com outros personagens que me atrapalhem a beleza da cena. Eu disse personagens?! Pode ser... Os outros e os residentes efectivos.

Posso?


Portei-me tão bem o ano inteiro que hoje tenho direito a uma avaria.
A questão é qual...

Diabinhos

Pequena estória de uma mulher que cozinhou o dia inteiro para servir uma ceia de Natal fantástica e à hora da refeição fingiu que comeu só para não engordar e perder a silhueta.
Pequena estória de uma mulher que comeu os sonhos, as rabanadas, as filhós, as azevias -as de grão e as de batata doce- a aletria e as farófias, vingada nas lágrimas que a incharam por o marido vestido de Pai Natal não ter regressado a casa depois do recado que ela lhe encomendara para comprar pau de canela.

E depois?




Interrogação, ponto.
Tempo de amor, tanto amor, muito amor, todo o amor.
E quando esta quadra oficialmente encerrar? Ponto, interrogação. Exclamação.
Regresso. Como era antes.







Boas festas.

O sono dos homens



Muitas vezes ouvi outras mulheres comentarem sobre o sono. O dos homens após. E o após é sempre referido num meio-tom, à meia-boca torcida da critica depreciativa, do despacho da tarefa da sua condição viril e voltar para o outro lado e dormirem descansados de a terem cumprido. Comentam-no num desconsolo de quem comeu e não gostou. Ou pior, de quem cheirou e nem sequer provou, porque parece que também elas vão para despachar serviço e há que apressar, acabar logo com a injecção, proferir uns sons na imitação da vida. Apetece-me dizer nesse entrementes que se usufruíssem do mesmo gozo talvez se virassem para o outro lado, pacificas, e o ícone da Bela Adormecida tería outros significados.

Liberdade


Tenho a liberdade de ser quem sou. De gostar de mim, de ter idéias e objectivos definidos pela minha vontade, de ser original, de dizer sim e dizer não. Tenho a liberdade de não usar da mentira, a liberdade de me doer quando não gosto e dizê-lo. Ganhei a liberdade do uso das palavras, ditas e escritas, o poder do silêncio, o poder do grito e também o da escalada para aí chegar. A liberdade de falar e olhar nos olhos de quem me escuta, sem medos, sem vergonhas, sem fazê-lo baixinho para que ninguém ouça. A liberdade de voar quando estou presa numa sala, a liberdade de dizer que me engano muitas vezes e pedir perdão.

Porque não me apetece


Dada a quadra natalícia devería, supostamente, falar de boa-vontade, do espirito de entreajuda, desejar boas-festas e muita felicidade.
Mas não me apetece. Porque todos falam do mesmo, porque todos falam e poucos praticam, porque rápido se guardam com os enfeites até ao próximo Natal. Eu não fujo à regra, é certo, mas de ano para ano tomo consciência de que o que era brilho fica baço e o imaginário da minha infância acaba por me trazer mais tristeza do que alegria... Acabaría inevitavelmente a dizer o que condenei em tempos passados como coisa de velhos, "No meu tempo é que era...".
Assim, penso em sapatos, na minha obssessiva e escandalosa imaginação virada para sapatos. Nos que já tive e rompi, nos que desenho nos moldes da minha invenção, nos que gostaría de vir a gastar nos próximos Natais.

Testamento





Conheci uma mulher que uma vez me pediu que quando morresse, se cuidasse para que fosse bonita. Não quería negro, prefería o vermelho. Que se tomasse atenção ao sorriso. Um arco leve e colorido afastando a palidez e as lágrimas dos que a veríam na derradeira vontade. Quando chegou esse tempo recordei o pedido e dei cumprimento ao seu apetite. Ía bonita. Levava no rosto uma serenidade que desvanecía por completo o desassossego que suportara na vida. Não lhe disse adeus, quem vai assim só podería ir a uma festa. Essa mulher era a minha Mãe.


Pequenos tudo



Primeiro para mim. Porque sim. Porque gosto. Porque gosto de me ver e o voyeur que habita em mim aprecia-se, aprecia-me, agrada-se, critica-me, aconselha-me. Gosto de pequenos nadas que me fazem sentir mulher: De perfumes, de jóias, de lingerie ousada. Gosto de lingerie que me toque a pele como olhos gulosos, que me recorde no laço, nas rendas, nas transparências o efeito do outro. Primeiro é para mim, porque só assim pode ser belo para quem me apetece.

Frutos maduros



Ouço muito as pessoas a queixarem-se da falta de tempo. Até eu. O tempo entala mas também premeia. Hoje apetecem-me coisas que dantes condenava. Permito-me a actos e palavras que dantes evitava por os considerar quase obscenos, uma transgressão ao social e expectável. Acho que perdi aquela vergonha do parecer mal e parece-me muito mal se tenho apetites e não os satisfaço. No fundo, quando se morre perde-se tudo: a vergonha, as carnes, o desejo, os apetites e ninguém os há-de cumprir por mim. Então, coma-se o fruto antes de se estragar pendurado até à queda, que deste só se recebe um chuto para se afastar o mosquedo que acaba sempre por atraír.

Da pílula da felicidade



Há algumas mulheres que a partir de certa altura das suas vidas se apagam. Desligam-se. Funde-se a lampada interior e progridem na vida numa penumbra de apalpadelas e tropeções. Queixam-se de ingratidão. Penso que da vida. Do facto de terem sido esquecidas por uma central eléctrica que as alumie em substituição do black out total que fizeram. Envelhecem cheias de olheiras das noites em que esperam e do choro quase silencioso e condenado de as deixarem a dormir sózinhas. Mas não se lembram que muita dessa escuridão foram elas que procuraram. Deixaram de achar graça ao riso, aos homens, ao serem bonitas. Sofrem continuadamente de uma enxaqueca da vida, perdendo-se em pharmácias quando afinal o comprimidinho da felicidade está algures, à solta, dentro dos bolsos de si mesmas.

Eu e as outras


Há um mistério no mundo feminino -do qual faço parte- que nunca entenderei: Dois lados num mesmo universo, ou seja, a mulher, o eu e depois, lá muiiiiito depois, as outras.
E as outras são sempre mais feias, mais gordas, mais burras, mais frustradas.
Se - e é um SE- por um acaso essas outras são mais populares, ganham melhor e têm exito profissional só podem (obviamente) ser uma coisa: Prostitutas.
E é exactamente neste ponto que a minha interrogação se coloca, o porquê de tanta arrogância e cuspidela perante uma sua igual apenas porque é mais alta uns cms. ou conhece uma franja mais alargada do sector masculino. Ou que desdenhosamente lhe atiram o cargo ganho a pulso na posição horizontal. Ou que não é digna de confiança, do depósito de segredos e truques.
Mas então... Se de um dos lados diz cobras e lagartos do outro e o outro é só descréditos...
Não fica tudo igual???

Corset (Ou o principio da mente espartilhada)



Não encontro tabus na entrega, na troca do dar/receber. Tudo é aceitável pelo comum querer.
Mas sei que a condicionante da mente ergue muros altissimos e a condenação parte exactamente do próprio eu que se empoeira e atacanha. Buscar não tem fronteiras, não há limite à imaginação, seja no prazer do corpo, seja na arte de escrever, seja no engenho da mentira que se prega. E mentira maior que negar-se o que se é... não conheço.

Guerra

Li algures que o facies do homem é muito mais bonito do que o das mulheres e que só não se consciencializa esse facto de imediato, porque o masculino não apela aos artefactos com que o outro género se mune e enfeita.
Querería isto dizer, em rudes traços, que a mulher precisa de muito mais do que uma carinha bonita para ter efeito sobre o outro lado, e repare-se, que o artigo que li apenas se refería ao aspecto fisico.
O feminino recorre à máscara, ao dramatismo do corte de cabelo que lhe emoldure o rosto, uma jóia que ilumine combinando com o olhar, ao baton que desperte o primitivo do desejo...
Mas... se o 1º pensamento é o do faz de conta -faz de conta que eu sou mais bonita que tu, homem- o repensar leva a um raciocinio muito mais atrevido, ousado, amadurecido e mesmo imaginativo.
Guerra é guerra e se é assim, então use-se de armas potentes para a conquista do espaço e tempo dedicados ao lugar que à mulher compete: ser apreciada.

Sem discussão



Uma disse loura. Outra cobre. Um ruiva, ruiva cenoura, ruiva cabeça de fósforo, ruiva abóbora. Alguns compriiiiiido... Uma outra -curto- definitvamente muito curto!

Como me apetecía muito mudar, enfiei um chapéu na cabeça.

(Sorriiiiiio...)

Moldes viciados



É curioso como a vida se desenrola num círculo. Lento e que gira, voltando a um ponto de confluência que se acha a certa altura ter perdido. Nada mais errado: regressamos aí vezes sem conta, chamamo-lhes destinos e coincidências. No fundo, fomos nós mesmos que fizémos para que isso acontecesse, dumas vezes intencional, doutras inconscientemente, mas porque temos vontade e ensejo para que suceda. Veja-se o exemplo deste blog. Nasceu porque eu vi outros e embora apreciando-os, não me completavam, precisava de um eu. Porque o eu é semelhante, mas nunca igual. Muito bem. Um dia alguém há-de passar por aqui e achar o que eu já achei, que lhe falta o seu eu. Conclusão: andamos à procura de nos encontrarmos. A semelhança não encaixa. Carece do nosso molde.

Nós, Nús, Noz


Quero fumar este cigarro. Saber-me nú depois de nós. De toda a cama entornada, os lençóis perdidos janela abaixo em nós atados no abismo que saltamos de mãos dadas. Nós, miolo de noz.
Hoje apetece-me.
Porque nos apeteceu.

Ando



Caminho num ___________________________________________ fio invisivel.

Pé à frente do calcanhar, faço VV, galgo terreno, amachuco coxas na decisão dos glúteos arrebitados, joelhos definidos pela força fina das articulações que mobilizam músculos, olhos, ventre, mãos a compor, braços a enfeitar.

Ando assim.

Num passo de manequim, com estórias na cabeça, com beijos escondidos na boca, segredos que visto no corpo.

Ando assim.

Cá por dentro, tanto que corro.

Invenções


Poder-se escrever sem se ser escritor dá uma liberdade furiosa.
Falar, falar de tudo sem alinhamentos nem obrigações temáticas, deixar a tinta escorrer para onde bem quiser, sem canais que as condicionem nem marginalizem pelos olhos que lêem.
Tantas vezes já me despi pelas letras e nem por isso os outros me veem nua.
Fabricar-me nas invenções do desejo. Ou na das tristezas. Ou até noutras que me fazem no outro género. Ser do outro lado.
Basta que me apeteça.

Do meu tamanho


Não sou grande.
Sou do tamanho que sinto em cada dia, todos os dias. Preciso de carinho, palavras bonitas, de açúcar, de colo, do meu pedaço de solidão, das minhas raivas despenteadas, de paredes pintadas na fúria do gesto com cores que me vazam o que sou naquele instante.
Preciso de ser mulher crua e seca, doutras vezes apaixonada em romantismos balzaquianos, tantas apenas um animal com fome de viver.
Mas a minha natureza já foi salva por actos pequenos. Tão liliputianos na sua dimensão, que uma simples estória ao deitar aconchegou de novo a essência ao corpo e eu encontrei-me na minha grandeza.

Pele


Se nos conhecemos tão bem no nosso eu, no nosso corpo, porque razão será que a palma das nossas mãos não faz despertar como a de uma mão amiga?
Tudo se acorda e espreguiça nesse carinho meigo de linhas terceiras que ao passar electriza, arrepia e amorna. Tudo se dimensiona de outra maneira, descobertas acontecem... olha, aqui também estou viva! Oh! Não suspeitei que aqui fosse meu, que fosse eu, que houvesse pele!
Que tecido é este que nos cobre, protege e até se rebela contra o seu proprietário que fabrica magias pelo simples toque de um indicador?
Atiça raivas.
Consome paixões.
Agita o olhar pelo belo e pelo macabro.
E verdade seja dita, é para ela que primeiro se olha e primeiro se cativa.

Ex


Não há condição mais estranha do que ser ex. Ex-qualquer-coisa.
Só o facto de ser qualquer-coisa já é ex. Passado. Foi-se, não se é mais.
Porque não se foi categorizado para o ser por mais tempo, porque se encheu a fartura de se ter sido e estado, porque é um estádio que não dá lugar a adjectivo vitalício.
No fundo somos todos ex. Ex-crianças, ex-adolescentes, ex-sonhadores, ex-amantes.
É quase como coçar e não chegar lá... quase, quase.
Hoje apetece-me que alguém use das suas mãos, levemente em gancho, suavemente em pata, delicadamente riscando as minhas costas. Mais para o meio, onde sabe bem sentir coçar.

Matar a sede


A diferença entre rubros acha-se cá por dentro.
Destaco-me na tua pele e no entanto, serve-me de agasalho. Aquece-me. Enrubra-me.
Apetece-me.
Lascivamente. Apetite a sério de corpo e pele tem de ser lascivo, animal, contundente.
Matar de cada vez por todas as vezes em que me apetece nascer.
Rubra. De todas as cores palpitantes. De toda a pele que se veste de outra e unifica e destaca e materializa sentidos racionais em tons liquidos.
Água que bebo da tua pele.

Garras


Delimitar territórios. Negativo de mim, do meu espaço, das minhas conquistas. Apetece-me pintar as unhas de cor sangue e verter pingos de seiva na terra onde piso e enraízo marcas. Marcos. Como dedos que se cravam no coração, o agarram e comem pelos olhos, pela paixão. Apetece-me pintar as unhas de paixão, cor paixão. Garras que dilaceram orgasmos no sentido madrugador dos silêncios dedilhados da descoberta. Rasgar terra como quem abre peitos para lá morar.

Olhos Que se Abrem


Maquilho os olhos. A condizer com a roupa. O céu. As palavras que escondo no céu da boca.
Olhar que exibo de mim no ruído de humores.
Apetece-me que o mundo seja belo.
Tanto de muito precisar.
Fecho os olhos. Maquilho-me de branco total por dentro.

Demo post


Apeteceu-me um blog.
A acompanhar um Orange Pekoe.
Porque estava enfastiada de ler muito por aí, encontrar-me nalgumas palavras de outros mas faltar o meu cunho, o que me deixava sempre a sensação de ficar alguma coisa por dizer ou se ter debitado para além do necessário.
Apeteceu-me um blog. Toda a gente tem um blog nos dias de hoje. Até os que não sabem escrever têm um blog. Os que não sonham têm um blog. Os que vivem a vida por aqui têm forçosamente de ter um blog que a vida lá fora é chatinha, chatinha...
Apeteceu-me um blog para molhar no meu chá, entreter a mão que não se aquece na chávena, escolher cores como tecido de cortinados, mobilar clean&minimal, ...gosto de espaço para a vista absorver o todo, e em simultâneo esconder-se nos recantos abertos, onde tudo pode acontecer...