Medir tamanhos


Atribua-se ao tamanho a importância que ele efectivamente tem. Quando crianças achamos o mundo à nossa volta fabricado por mãos de gigantes, nada nos serve, tudo é excessivo. Crescidinhos, falta-nos espaço, a área onde convivemos é sempre apertada, a pequenez dos outros faz-nos rir e sentir superiores, dimensionamos uma unha partida até à amputação de um braço. No final, o tamanho acabará por não passar de outra coisa senão a perspectiva que se tem; Ou melhor, a perspectiva que se educa, que eu creio que o conceito de tamanho se altera consoante a nossa maturação. A tal história do copo meio-vazio, copo meio-cheio...

Sapatos



Voltando à vaca fria. Ou seja, aos avatares com sapatos de salto alto. Os demais estão intimamente ligados a espaços virtuais que escrevem um supostamente eroticus mas que lendo bem, roçam o hardcore com a abundância dos verbos reflexivos. Ou então, acha-se exactamente o oposto: O feminino a esmagar na ponta do sapato o pior do masculino, fazendo deste género um acessório perfeitamente descartável. Eu só quero dizer que o meu símbolo é um sapato porque gosto muito de sapatos. Ponto. Grotescamente simplório, não?!

King


Dias em que a sétima arte me serve que nem uma luva. Esmago o próximo idiota que fizer uma observação sobre os meus sapatos. E o silêncio sobre a minha inteligência.

Apaziguar (o racional)


Há dias em que me basta a noite escura e um pedaço da Lua. E o sol entra de novo na minha vida.

Ordinário (marche)


Uns textos abaixo escrevi sobre uma reunião de apresentação de projectos. Falei de mim e de outras duas mulheres. A célebre reunião terminou com uma delas lavada em lágrimas, a outra a consolá-la e eu com um sentido de vitória - que confesso - se não fosse eu, dava nojo. Hoje soube que o projecto aprovado foi o da chorona, ao que de imediato o dito do quem não chora não mama me assolou o cérebro, logo seguido do nascer com o cú virado para a lua, ou para me retirar em beleza deste post: Pode quem manda (mas digam isto com os dedos na boca).

Montras

Há trabalhos que eu chamo trabalhinhos, nunca estão feitos, multiplicam-se e alimentam-se numa cadeia de pescadinhas de rabo-na-boca e, por isso mesmo, sendo causa de aborrecimento de morte, sempre ficam para trás, amanhã também é dia, é sempre amanhã que são feitos e dentro do espirito deste prazo, acumulam-se. Não sou só eu que padeço desta trabalhite, muitos proliferam nadando no hei-de fazer e, não sendo totalmente fruto do fastio que estas coisas de mão trazem, também serve para mostrar serviço enquanto roçam o fundo das costas pelas paredes. Montras. Que dão os seus frutos.

Conversa (é o que vocês querem)


Pausa para café numa reunião de apresentação de projectos. Os três projectos titulados por mulheres, um deles meu. Moderação por um homem, o chefe. Esgatanhamo-nos, eu defendi o meu até com dentes, diga-se que ao fim de 3 rounds levo a melhor e já deitei as duas ao chão. Falamos a mostrar a nossa civilizada condição, entre goles no cafézinho e umas alfinetadas. Vem à baila a minha obssessão por sapatos, que os devo usar de salto agulha até no areal. Concordo, claro que sim, sempre, só quando vou a despacho ao gabinete do chefe é que me descalço.

O entalado



O do meio, a quarta que separa a outra metade que renasce na expectativa do fim de semana. Ainda falta outro tanto de chateza e eu sem fígado para aguentar parceiros, prazos e outras palavras começadas por filhos da p. No fundo o entalado sou eu, a entalada, eu e mais uns quantos lusos que sorrimos por ter emprego, que sorrimos por receber salário, que sorrimos por ver o preço do salário e nos animamos por na semana seguinte voltar tudo ao principio.(fico tonta...)

Entre as mãos de uma criança

Fazem-me falta os lápis de cor que tinha na minha caixa de madeira quando andava na escola. A qualquer momento coloría um mundo que desenhava numa folha de papel branca e tudo voltava a ser bonito. Para onde foram esses tempos de simplicidade e alegria?

Arre!


O regresso à realidade é duro. Ainda mais numa segunda-feira em que a meteorologia resolve baralhar o calor com a chuva e a minha decisão sobre o que vestir (Posso ir de camisa-de-noite? Ou melhor ainda: Nua?). Mas quando, quase passadas doze horas de termos saído do ninho e aí voltamos, suspirando o finalmente, nos põem o dedo na campaínha e descobrimos que é a vizinha chata que fala pelos cotovelos e não diz coisa nenhuma e não temos como nos passar por defunto porque ela está sempre à espreita, o pensamento que me ocorre é uma célebre frase do meu avô: Fugi a cavalo num burro!

Looping


Como um voo cheio de acrobacias a fechar com chave de ouro no clássico looping, regresso amanhã à loucura do asfalto, ou seja, aterro os meus voos planados na secretária que me aguarda impiedosamente e quase certo, sem trem de aterragem para me amortecer a queda. Passa veloz o tempo quando o pensamento viaja agradabilissimo na ausência da obrigação pautada pelo horário, pelo trânsito, pela convivência forçada com quem não apetece. Fecha-se o circulo do voo arriscado que se finaliza onde se começou. (Desencorajador...)

Estória (sobre uma porta)



Estória contada por mim enquanto vejo a portada recortada por mão hábil. Fotografo nos sentidos toda a vantagem que o tempo perdeu, não tenho pressa, vou levar a intuição ao extremo e muito provavelmente a sensibilidade de braço dado, ajuda-me a decalcar nas costas nuas o carinho da noite e ainda o que sobra pela madrugada. Tenho fome, quero saber tudo, quero sentir tudo, temo que esta seja a minha única chance de o fazer, mesmo sem saber quando irei e se algum dia voltarei, as minhas hipóteses poderão não ser iguais. Não arrisco. Hoje é dia de viver a plenos pulmões até ao tóxico. Deixo que amanhã outra vontade me envenene e talvez conte outra estória.

Licoroso


Será que ontem nada me apetecía porque a partir de amanhã vou estar no ripanço até Segunda? O corpo sabe destas coisas, domestica-se rapidamente, ou seja, habitua-se depressa a uma vida mansa sem horários nem chatezas e muito menos falantes de conversa da chacha. Por isso, vou gastar estes dias em coisas sem interesse nenhum. Um licor até às férias! (Quem ficou que amouche. Há-de tocar a minha vez também)

Pf


Alguém por favor, me pode dar corda? É que hoje nada me apetece.

Ganhar&perder


A nossa consciência politica não está adormecida, está dormente. Ganhou um calo de tantas mentiras, de tantas desilusões, de tantas expectativas frustradas. Passou a ser um incómodo que se lembra existir quando chega a altura de exercer os direitos e deveres e que rapidamente se volta a esquecer. O voto em grande no não estou para este frete ou isto não vai mudar nada, estas não têm grande importância ou isto é bom é para quem lá vai para o poleiro, ganharam. Foi igualmente o voto da indiferença. Mas sublinhe-se que os que fugiram a este número votaram mais para que as rosas murchassem... ao invés das laranjas voltarem a dar sumo.

À primeira vista


Quem diría que este senhor - ou estes senhores todos - fazem parte de um génio que se ocupava no funcionalismo publico, bebía tinto carrascão e cheirava a tabaco que tresandava, o que afastava rapidamente da sua figura amarelada qualquer intenção de travar amizade? Pois é. As primeiras impressões são do caraças. Eu própria não devería aqui introduzir este "caraças", elemento que poderá levar o leitor incauto a concluír que o meu vocabulário é pobre e reduzido a lugares comuns. Mas se do latim aqui rapasse, outro galo cantaría. Ou se não me definissem o perfil fútil através da observação dos meus sapatos. O género humano é ingrato: Seleccionamos, agrupamos e rotulamos com a mensagem que nos chega à primeira vista. Miopias do espirito, acrescento eu...

Verdades solitárias


Ainda este estado gasoso da tristeza. Aos poucos e em milimetros aventuro-me sobre as causas, mas num plano hermético em que mais ninguém tem direito a caminhar. A tristeza é minha, não a quero compartilhar, não acredito nessa generosidade da troca de experiências em que o outro lado diz que percebe o que estou a sentir. Ele acha que sim e para nós é consolo bastante pensar que não estamos sós. Mas estamos, estou. Não ofereço as minhas dores para serem sofridas por outrém, não as sabería apreciar nem curar e a inversa é tão brutalmente verdadeira que se esconde, mistifica-se e justifica a entrega de um ombro para chorar. (Mas apenas e só)

Quieta


Quando estou triste muralho-me. Não sei se esta palavra existe mas a partir deste instante passou a fazer parte de mim para me significar. Ergo paredes circulares de betão armado para que nada entre e me toque, para que nada do que sinto verta. E todo o meu pensamento é uma espiral sobre a tristeza que me prende e me impede de calçar e fugir de mim para fora. É que estou de pés nus e o chão está coberto de vidros.

Imitação do sentir



Gosto de cinema europeu, especialmente do Francês. Gosto dos planos que exibem fazendo valer a imagem pelas muitas palavras que poderíamos ter como classificação das imagens. Gosto do que fazem sentir, de nos colocar na tela como se o espectador fosse personagem da trama. Vem tudo isto aqui parar ao meu blog por uma memória muito doce que tive: Lacombe Lucien de Louis Malle. Há uma cena em que uma mulher deitada de lado sobre um canapé, de costas para a camara, esconde os seus sentimentos. E a arte desse take é tão profunda que não é tão só a simpatia e empatias que temos por ela, mas a própria necessidade que nos leva a deitar de lado e a cobrir o que nos vai na alma pelo esconder do rosto.

Os meus minutos


Não quero um dia de. Só preciso de uns míseros minutos e nem sequer os quero de fama. Uns minutinhos onde dê azo à minha vontade e supremacia. Pelo menos de dona deste blog. Hoje apetece-me não falar de coisa nenhuma e isso implica tacitamente não riscar uma palavra que seja sobre humanóides. Por isso os cães. Que mesmo mordendo nunca me desiludiram. Sei com o que conto.

Reservas


Depois do dia disto, daquilo, e daquel'outro arruma-se-lhe com o da criança (porque não? é só mais um) e faz-se de conta que se tenta tudo por tudo por elas, em nome e benefício das crianças, esses grandes pequenos que são o nosso futuro, a nossa extensão no melhor, a nossa salvação. Entenda-se redenção. Tenho algumas dificuldades em acreditar nestas crianças porque tenho abissais dificuldades em acreditar nos adultos de agora e como tenho a opinião formada que eles serão o que lhes fornecemos hoje, a custo os projecto num mundo melhor. Mas o problema deve ser meu, que assim que se refere um dia como sendo o dia de, fico logo de malapata.