Paris ou um novelo de tentáculos

 

Paris assustou-me. Deitou-me abaixo. Como quem está a dormir sossegado na sua casa, no quente das cobertas e é sobressaltado pelo pontapé na porta que tomba e assim se fica, desguarnecido, impotente, nú e volúvel à patifaria que nos queiram aplicar a bel-prazer. Foi assim que levei com as noticias das mortes dos inocentes, uma bota na cara, um soco no peito, e não tinha mãos para tapar a minha vergonha de ser humana como os demais que se fizeram à cobardia de se armarem de armas e as descarregaram em quem quería viver. Há os que querem morrer pela salvação e os que querem viver para se safar. E há os que não têm nada a ver com nenhum dos dois e são os que tombam  abatidos. Não sei rezar e tão pouco acredito em religião alguma, mas no homem há muito que sou descrente e este exemplo só veio acrescentar sublinhados à minha convicção. Paz, peço.