Mais uma vez (e sempre)




Num instantinho aqui se chegou, mal deu tempo para se guardar os enfeites do ano passado para agora. Os vendedores é que a sabem toda, pudera! Por isso optaram pelo plástico ao invés dos belíssimos vidros que no meu tempo de criança me entortavam a vista pelo brilho cintilante e pelas palmadas nas mãos quando partía, incauta, algum de tanto lhes tocar. Este ano não decoro, não gasto dinheiro em compras para outros e não perco a madrugada a cozinhar para lambareiros. Hei-de encostar o nariz nas montras a ver as árvores dos outros, ficarei na expectativa dos presentes recebidos e hei-de alapar o traseiro em casa alheia. E se assim não for, Feliz Natal!(não é isso que interessa?)
 
 

Regresso ao básico

 

 
Após curto, curtíssimo, médio, longo, retorna-se ao básico e também a algum bom senso, convenhamos, já era tempo. Mas mais que alguma temperança, uma contemplação para todos os gostos ou uma palete para dar uso ao que se tem pendurado. E não me refiro apenas a fashion, mas igualmente a um discurso politico, em que podemos assistir às maiores modas. O ponteiro vai de um extremo ao outro. E a verdade é que me sinto sem qualquer opção de escolha. Ou seja, estou nua.
 
 

Vintage

 
 

 
 
Este rastilho que corre doido pelas bocas de todos a chamarem ao que está velho, gasto e pronto para ir para o lixo de vintage, dá-me vontade de rir. Tudo é vintage. Mesmo os maiores trastes made in China com aspecto envelhecido e esburacado desde que tenham cumprido meia-dúzia de anos de existência e de uso. Ora a designação original foi atribuível nada mais nada menos que ao vinho, ou seja, do francês vin mais age, idade, vinho com idade, maturidade. Depois alastrou-se a um conceito, deixando de ser exclusivo da idéia vinícola, passando a estar intimamente ligado aos Anos 20 do Séc. XX. E agora, tudo o que não seja a partir do Ano 2000, é rotulado de vintage. Resumindo: Eu sou vintage. (Haja paciência...
 
 

Corría o Ano de...

 
 


... 1867, quando numa gloriosa manhã de Outono, fria e ventosa, com alguma chuva irritante à mistura e duas horas de atraso, que a malta para chegar  no horário por mais que se desunhe não é capaz de cumprir, lá puxaram os panos e exibiram a estátua do Camões.(Imagino eu, naquele tempo devíam existir quatro estações e ninguém corría para nada e pessoa alguma morría de stress). Uma coisa descomunal, diga-se, mais de base do que propriamente de estátua, que esta em si nem 5 metros tem, mas vale-lhe o pedestal e o Poeta merece, que há até quem diga que à força de tanto escrever à luz do sebo, caiu-lhe um olho. Doença profissional, coisa de somenos na altura. Bom, a mim, hoje apeteceu-me isto: Efemérides. E uma chamada de atenção: Respeito. Respeito pela lingua de Camões. A ver se a têm. Por favor. (Estou a pedir com bons termos.)

Vá lá!

 


 
Então?! Agora é isto??? Saímos do bikini para a gabardine? Nem um cheirinho a Outono para nos irmos habituando gradualmente à frescura da manhã e final do dia, as horas mais curtas, as mãos frias, a cacimba, alguns nevoeiros? Acabei eu de adquirir um belissimo exemplar de pisantes de meia-estação, toda ufana para a estréia e não há condições que permitam pôr o pé em ramo verde, porque se não, lá se íam os maravilhosos e cobiçados (e carissímos, confesso) sapatos na 1ª saída, com as valentes cargas d'água que não param de caír. Assim não brinco, vá lá Oh S.Pedro, lá porque andas de chinéis não quer dizer que eu tenha de andar mal arranjada. Vai à pedicure e trata de comprar um par de sapatos em condições. Olha que até o Papa calçou Prada!
 
 

Enough!!!

 
 


Serei apenas eu que me irrito com mais um filme acerca da Princesa do povo? Este gosto desmesurado pela miséria e infelicidades alheias que fazem a felicidade e enchem 1e1/2 hora de gozo de uns quantos, que se abalam de olhos pregados num celulóide lambido a recuperar dor e lágrimas já estafadas, e que sem sossego, lá voltamos nós, a mais um pedacinho que não se sabía ( ou já se sabía e não se tinha contado nesta versão), se lastima a sorte ou falta desta, quando tinha tudo e até tanto dinheirinho e vai-se a ver o povo é que tem razão: O dinheiro não traz felicidade e o Carlos é um malandro. Por favor, poupem-me! Deixem a Princesinha consumir-se em paz e respeitosamente, guardem-se, resguardem-se de mais manifestações que ela merece respeito. Surpreende-me os Britânicos, sinceramente. Tão recatados e é o que se vê, uma exposição sem fim até às costuras. Já chega, vamos para dentro que o show já acabou.
 
 

VIP até de costas

 
 

 

Existem várias formas de o dizer. Mas no final, vai tudo dar ao mesmo e voltamos à velha história: Que mania irritante de falarem de mim! Devo ser mesmo muito importante nas vossas vidinhas para vos ocupar tanto tempo e tanta da vossa imaginação. E falar nos meus costados não é nada saudável. Primeiro, porque sou dotada de uma excelente audição; Segundo, porque o local onde habitualmente o escolhem fazer é no bendito WC, e as portas são abertas no topo e em baixo, e eu posso ser a ocupante de uma delas (elementar, minhas caras!); Terceiro, porque existe sempre uma víbora mais cobra do que qualquer um de vós que se lembra de tentar morder-vos e se aproxima de mim para me tentar fincar a dentuça também; E quarto, eu não sou parva. Agora, para rematar em beleza, eu prefiro: As vossas palavras resvalam na couraça da minha indiferença. (De preferência, um couraçado Chanel ou YSL.)

 

Intolerâncias

 
 

 
 
Decididamente, ou eu me mudei para outro planeta desde que regressei de férias, ou então este pequenino canteiro à beira-mar plantado resolveu aprimorar-se no seu visual, e a qualquer hora do dia e em qualquer local, é o tempo certo para tomar conta de si. Desta vez, são as unhas. Os cascos. É bem certo que estas crescem independentemente do sitio onde quer que estejamos, mas convenhamos! cortá-las em pleno escritório e ao meu lado, não é de todo aconselhável. Isto porque eu não o tolero e não estou para levar com os restos da mortandade dos outros. Por isso, se querem ficar lindos, vão ficar lindos para longe que é para não cheirar mal, por favor. (o que virá a seguir, pergunto-me?!)
 
 

Limpar a sala

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Tenho vindo a reparar que os portugueses e as portuguesas estão cada vez mais higiénicos, mais aplicados na dificil arte de vasculhar os recônditos orificios das fossas nasais. Não fora já de si o acto ser nojento mas necessário, aprimoram-se em praticá-lo na via publica e por dá cá aquela palha. Ou seja, mesmo a trocarem meia-dúzia de palavras no quiosque enquanto compram o desportivo, enfiam o fura-bolos e vai de limpar o salão até ao cérebro en ângulos mais ou menos perigosos que os afastam da realidade e os aproximam de uma concentração até ao tutano que só se alivia quando o macaco é extraído na ponta do digito e de perto analisado. Sinceramente, não sei de onde vem esta moda, mas ao pesquisar on line, apercebi-me que está a alastrar pela Europa (vide imagem no topo) e ao que parece pelas melhores casas reais. No entanto e como já tenho referido bastas vezes, eu sou do contra e a única coisa que se me oferece é dizer porco e estender um lencinho de papel.

 

A uns quantos

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A queimar os últimos cartuchos (como passou depressa este mês!) e sem motivação alguma para retomar os velhos hábitos que irão acompanhar-me por mais onze meses seguidos, escrevo nostalgicamente e recordo, a primeira semana de férias, em viagem. E constato, que esse sonho levado a cabo, foi tão maravilhoso quanto redutor, pois o que gastei confinou-me pelo resto do tempo ao chamado passeio dos tristes. É assim que vai a nossa economia, a nossa bela Troika. Não devía ser assim. Viajar não é deitar dinheiro pela janela fora, é alimentarmos a nossa cultura individual, alargar horizontes, partilhar experiências, levarmos o nome luso para fora de fronteiras. Não choro o dinheiro gasto. Lamento são as poucas das vezes que o faço e a oportunidade estar reservada apenas a uns quantos eleitos (certamente troikanos).

 

É mesmo!!!

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De verdade. Nada de estar quase, mesmo à porta, faltar uns dias. Estou oficialmente de férias. De perna à rã, os ovos debaixo dos braços, o dolce fare niente, o ripanço, a sornice, o come-e-dorme e mais uns seiscentos e muitos epítetos designativos relativos ao merecido período entre dois, que se apelidam o trabalho escravo e o regresso ao degredo. Mas até lá, ou melhor, entre eles, as férias, as minhas merecidas férias. E para já, um voo alto e muito desejado. See ya soon!
 
 

Porque ele há dias

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Em que acordar com o pé esquerdo parece ser ter os dois direitos prontos para tropeçar. E não conseguir aguentar o desiquilíbrio e cair mesmo. Esfolar as sandálias favoritas. E os joelhos. E romper as calças de seda. Voltar a casa e recomeçar. Chegar tarde ao serviço quando se tinha uma reunião marcada. Todo o dia entrar em défice e sem recuperação possível, apesar de ter almoçado à secretária uma comida imprestável e que me causou uma azia que se prolongou pela noite fora. Receber um convite para saír e ter de o recusar, por causa de trabalho. Há mais de um mês que o esperava (Deve achar que me estou a armar em dificil). Regressar, finalmente! a casa e ter um furo. Chamei a assistência. O serviço é pago. Por isso, choro. E como uns bombons. Não posso fazer mais nada.

 

Rorschach

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Ainda desajeitadamente recomposta da nostalgia que me atingiu nos últimos dias, fui esbofeteada pelo palreado sem filtro, cujas perguntas e respostas, já conheço de cor e salteado, mas que neste dia não estou de feição para apanhar com ele. Pelos vistos, os outros também não. Pois à costumada pergunta foste à manif, não te vi na manif, a que eu respondi, estava lá de braço dado com a tua avozinha, foram dados dois passos atrás, a cara engelhou-se, e o comentário de eu ter dormido com os pés de fora, ainda veio de borla. À semelhança do que a segurança rodoviária impõe, quanto ao controle dos seus funcionários que andam na estrada, a nível de registos alcoolométricos e de toxicidade, também as empresa deveríam ter um apertado circuito para os seus colaboradores que estão expostos durante um largo periodo de tempo à luz artificial. É que só pode ser isso! Como se explica que esta gente funcione com o cérebro de uma ave?! Deveríam ser sujeitos a exames periódicos de controle para verificação das suas funções psiquicas!
 
 

Sem fronteiras

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Não, não vou falar do nosso 1º de Maio, nem de outros 1ºs que já passaram que foram melhores e mais sentidos. Também não vou falar do de outros sitios onde ainda se comemora o verdadeiro espirito, porque não me lembro de nenhum. Apetece-me antes, num retorno saudosista e porque nos últimos dias revi algumas películas intemporais, mencionar que aquilo que é bom sempre fica. Independentemente das mudanças, dos politicos, da humanidade, da modernidade, da correria e da falta de tempo que todos temos, ele há coisas que ultrapassam qualquer fronteira e se mantêm jovialmente belas e actuais. É assim que quero o meu 1º de Maio este ano. Como uma fita a preto e branco de François Truffaut, a beleza de Deneuve, a irreverência de Depardieu. Para não ter de lastimar.
 
 

Fashionista

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Apetece-me. Cada um destes pares. Todos têm a sua ocasião e eu tenho o momento certo para os pôr a andar. Fazendo contas, um orçamento para adquirir esta mão cheia dá para aí... bom, é fazer contas, como disse o outro, mas menos que o OGE. E muito mais do que aquilo que eu ganho. Mas não é isso que vem ao caso. O que interessa é que são lindos, eu gosto, apetecem-me e nunca disfarcei que me perco por um bom par de sapatos. Afinal, o que interessa é ter uma base. Sólida. Sem isso não há nada. (Será que é desta que vou começar a apostar no euromilhões?)

Predicados

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Conversa de wc. Neste grandioso dia, trazido da terra do Tio Sam (não tenho nada contra), o que é que uma e outra íam fazer de agradinho para as suas caras metades. Parece que estou perante um déjà vu. Aguardo, o que será que vai sair daqui. Jantarinhos. Pois é. Parece que aquelas almas não têm andado a comer pelo resto das suas penadas vidas, pois hoje chegou o grande dia. E melhorado. Inquirida a minha pessoa, sobre o que eu iría fazer, encolhi os ombros e subi a sobrancelha, pelo que levei de remate Oh filha assim não vais longe. Ora a questão, é que eu também não quero ir para longas distâncias. Mas para a cozinha, nem pensar.
 
 

Já não se aguenta!

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É da praxe: Ano Novo, mensagem de austeridade. Que mais vão tirar? Já raparam no nosso salário, a devolução do IRS, os dias feriados, as baixas médicas. Querem que nos arrastemos a trabalhar até à idade da cova, rebentaram com tudo o que era pequena e média empresa e ofereceram à Troika a visibilidade do (in)cumprimento do que é ter palavra de Tuga. Pedem sacrificios e nós entregamos o coiro. Já não há cintura que aguente tanto jogo, andamos todos de boca aberta com o ar que nos falta e a mim, o que me abre a boca, é que olho ao redor e pergunto-me para onde foram os que tiveram a vontade de mudar um dia este País, numa noite de Abril... (devem ter emigrado, como nos foi sugerido...)