Preguiça ou o ajuste da Primavera


Tenho andado mandriona, sem apetites para nada em especial, incluíndo o meu blog. A Primavera, que toda a gente sabe, é a estação do renascer, a mim tira-me forças e vontade, pareço levitar noutra galáxia e quando o dia de trabalho acaba só penso em hibernar, pois obriga-me a fazer um esforço redobrado para não ouvir os passarinhos e ver as borboletazinhas a esvoaçar à volta do meu nariz. Esta é uma situação explicada clinicamente em que o corpo se adapta à exposição de luz em maior período, sendo que nalgumas pessoas são repetidos os sintomas pela transição para o Outono. Embora só me sinta no mundo da Lua com a chegada da Primavera, desfocada e cansada, a questão é que quem me rodeia (profissionalmente) tem tendência a usar e abusar de um julgamento nocivo quanto às minhas capacidades e consequentemente a achar que me pode deixar de fora de coisas importantes, tipo é agora ou nunca, que ela depois acorda!

Conceitos


Ainda sobre o tema amor, amores. E realidades. Escutei no wc feminino duas amiguinhas que se entretinham, enquanto lavavam as mãos, a falar de uma terceira -que óbvio- não estava presente; A conversa produziu-se entre risos e sarcasmos, imitações da voz da ausente e dos predicados que deu motivo a tal sessão. Segundo apurei, a visada sería uma mulher dedicadíssima à sua familia e ao seu bem-estar, mulher de bordados e rendas, pouco dada a vida social. Foi neste ponto que a bojarda saíu: Se era uma excelente fada do lar devería ser uma nódoa na cama (e cito), pois toda a gente sabe que estas mulherzinhas são umas frustradas e descarregam no aspirador e na agulha do crochet. Ora, moi, que não sou nada prendada nem tenho queda para a costura nem para a lida doméstica saí da casa-de-banho com um ar triunfante e afirmei ali, solenemente, que nunca tinha pregado um botão (acho que elas não perceberam, pois dias mais tarde apanhei-as a falar de mim e como eu era doidinha varrida)

Amor&realidades


Já falei aqui algumas vezes de relações amorosas. Provavelmente, quem as leu, há-de achar pelo meu torcer de nariz que sou uma cabra insensível ou despeitada, ou como agora é moda dizer, mal-amada. Nope. Só não gosto de lamechices e pinga-amores, frases feitas, e prendinhas em dias marcados. É que a vida a sério tem daquelas coisas que não aparecem nos filmes, em que elas e eles acordam fabulosos de hálito mentolado e a descompostura têm o atractivo do negligé. Não me lembro onde li, nem quem o escreveu, mas concordo absolutamente com o que se dizía: no real os homens e as mulheres não terminam o seu dia a amar-se, lindos e nús, ficando juntos para sempre.

O(s) luto(s)


Acredito que ao longo da nossa vida o processo de recolha interior pelo sofrimento que não se traduz em palavras organiza-se em desfiles fúnebres pelo que precisamos, para nós, e para a nossa integridade emocional, de cumprir um luto sem tempo contado. Isto vem a propósito de uns quantos que já fiz e certamente farei muitos mais, por pessoas e coisas que não me estão ligadas directamente mas que me fazem sentir uma viuvez tão grande na alma, que sería de todo impossível ver-me como Ana Lina se assim não fosse. A estúpida mortandade em terras germânicas foi o último negro que me caíu em cima. Estou triste, mesmo triste. Que causa dará a um mamífero denominado humano o levar a acções tão irracionais como determinar a seu bel-prazer o fim do seu semelhante?

Intelectualidades



Hão-de achar que falo muito de mim, que uso e abuso da 1ª pessoa do singular. E falo mesmo, o blog é meu e as pirosices que por aqui possam achar são de minha autoria, o que subentenda-se, é passível de opinião mas não de alteração alguma ao que publico, gosto e escolho. Isto tudo para dizer que o faço para mim, ao meu gosto e consequentemente sujeito ao meu entendimento. Não aprecio coisas que não perceba, por muito que digam que é arte e que as criticas façam levantar o morto da cova num efusivo aplauso. Serei intelectualmente inábil e pequena quando digo que não gosto e todos dizem brutal, só porque está instituído que é bom?

Elos-4


Gosto de me aperfeiçoar. É que o diabo está nos detalhes. Viver sem música, sem livros, sem telas, sem pessoas é viver num mundo feio.

Elos-3



Sou economicamente independente, trabalho para isso, contribuo para a minha satisfação profissional e manutenção de pão para me alimentar. Preciso dos afectos de quem gosto para me manter viva e demonstro-o, é-me vital fazer saber que quero ser feliz.

Elos-2


Sou rainha nos meus actos. Guio as minhas intenções e sofro-lhes as consequências. É por isso que gosto dos outros, é por isso que me estimo.

Elos-1



Tenho um compromisso comigo mesma. Com o que sou, com a minha herança genética e de valores, com as minhas crenças. No dia que o traír, serei prostituta.

Homem


Depois delas, eles. Ou seja, se bem suspeitava rápido se confirmou que o futuro dia delas põe a cabeça a andar à roda dos homens. E tive um déjà vu: Outra vez dia dos namorados? É que ouço-lhes (neles, leia-se) as mesmas preocupações, as mesmas dúvidas metódicas sobre cravos? rosas vermelhas? jantar fora? massagem de chocolate? Amanhã. Amanhã alguns hão-de marcar-lhes na espinha o jugo, a superioridade economica, o cabeça de casal, esquecem-se de internacionalidades e resolvem confinar o mundo a quatro paredes com quadros baratos da última ceia onde não se vê, mas suspeita-se, é a mulher que os serve. (Vá digam, mais um post politicamente incorrecto e condenável)

Mulher



Duas mulheres conversavam animadas sobre o dia 8 de Março, o que íam fazer nesse grande dia, o que esperavam que os respectivos lhes oferecessem, o que recusaríam (e exultavam!) fazer nesse dia. Dei comigo a pensar o que sería o dia 8 de Março, se feriado, se o aniversário de ambas, se a demissão em bloco do governo. Mas quando ouvi as palavras Mulher, ser o Meu dia, ter direito a Ter um dia, entristeci-me. Em 365 dias sê-lo uma única vez, congratularem-se de o ser por 24 h. Lembrei-me de todos os outros dias. As floristas vão ter um grande dia, não há dúvida!

Gostar-me



Os vestidos longos têm a capacidade de me aconchegar a pele e a personagem que desenvolvo interiormente. Talvez porque sei de todas as vezes que vesti um vestido comprido, lembro-me perfeitamente das ocasiões, das atmosferas que me envolveram e do quão fascinante me senti. É vaidade sim, eu gosto muito de mim. Deve ser por isso que os vestidos longos me contam estórias. São eles que se emprestam a mim e não o contrário. (E que nem vos ocorra pensar em narcisismo!)

Brumas da memória



Hoje esteve um belo dia de nevoeiro. Sou afectada pela síndrome do sebastianismo, espero sempre alguma coisa surgida entre a bruma esbranquiçada que me faça abrir mais os olhos para a tentar compreender e deixar-me naquele estado de aparente calmaria com o coração desatinado. E se não há nada, haverão sempre as recordações. Hoje a do pó-de-talco. Aquele das grandes latas de folha com a imagem de uma dama envolta em ramos de rosa e de longos cabelos frisados que a descompunham numa nudez macia, o cheirinho bom e adocicado... É nostalgia. Não sei de quê. Mas é bom.

É de vidro e quebra-se


O assunto mais falado entre as pessoas são os outros. O que os outros fazem, o que os outros pensam, o que os outros não deveríam fazer. Principalmente. Substituem sempre a acção dos outros pelas suas________________ (sublinhe-se): a dos outros errada, a do narrador acertada. Há uma capacidade inata para se ser juíz em causa alheia, o impoluto de dedo apontado à aura negra do pecador, que coitado só veio ao mundo para praticar o incorrecto. Depois é vê-los assinarem as suas próprias sentenças de morte moral ao tentarem investidas em actos idênticos, uma coisa mesmo triste. Não pelo que condenaram mas pela incapacidade que têm de serem autênticos.

Alturas e larguezas



Bom!
Para quem ficou a bulir enquanto eu folguei. Para quem teve de se levantar com as galinhas enquanto me trouxeram o pequeno-almoço à cama. Para quem contribuiu para a escoliose, lordose, calos e varizes enquanto me passeei de Adidas. Para quem aguentou os meus clientes enquanto fui ao cinema. Animem-se! Estou de volta. Podem preparar os vossos comentários amarelos sobre o meu ar feliz e saudável, invejar os meus sapatos novos (e muuuuuiiito altos) e alastrarem-se nessa coisa feia que é a inveja. Acaso já pensaram que da próxima sou eu que amocho?! Talvez deva reformular o título deste post: Altezas e larguras.