Não peço desculpa



Sou do antes, do acontecer e eis-me no pós. Cresci desde esse principio mas nem mesmo assim a roupa daquela infância deixou de me servir. Continuo a achar graça em que tenha bolsos para os encher e aqueles motivos pequeninos dos bordados ainda me distraiem quando lhes passo o dedo. E um dia a loucura, aquela coisa imensa que só cabía no imaginado a acontecer ali mesmo: aos meus pés, às minhas mãos, ao alcance de eu dizer é agora e eu estou a viver. Cheguei aqui, aos poucos parece-me que me resguardo naqueles bibes e naquela euforia para ter qualquer coisa em que deva acreditar. Em que deva acreditar naquela que fui e não aponte o dedo a culpar alguém de me ter ensinado a sonhar e a acreditar. Não peço desculpa a ninguém por achar que o após se tornou cretino, uma bandalheira, um santinho de pés de barro. Também eu estou presa nesta rede como tantos, mas não peço desculpa. Pelas malhas espreito. Ainda tenho essa vontade.

1 comentário:

Alberto Oliveira disse...

... não sou de elogios fáceis nem tu pareces ser consumidora de tal produto. Mas confesso o meu agrado (vês? nem escrevi "o meu espanto") por um texto tão politicamente incorrecto e difícil de assumir. E na verdade, pedir desculpa, é ainda, uma das coisas que os portugueses fazem com enorme facilidade. Sem pensar nas consequências. Nefastas.

Beijos e sorrisos.