
Passaram dois dias e nem um pio. Um ai que saudades da luta de rua e das palavras de ordem e das manobras imaginativas à fuga de uma carga de porrada por ajuntamentos a três. Pois é, bastaram dois dias e já ninguém fala da celebração do dia da liberdade. Quanto muito queixam-se do calor nos pés e de uma moinha no ombro, os anos não perdoam e andar na manif de braço levantado, atiçado e punho erguido já não é para eles. E depois ninguém os pode condenar: este ano comemorou-se o dia em grande, uma grande afluência, uma grande vontade de gritar pelas liberdades que parecem andar arredadas deste nosso canto. Mas também ninguém lhes pode dizer: que calhou a um Domingo este feriado e no dia seguinte há que laborar, colaborar com os que anos atrás sanearam... É que esta coisa de Abril é como o provérbio de águas mil.