Clichés


Nunca hei-de perceber porque as casas de banho se assemelham tanto a confessionários. Ou pelo menos a locais devotados ao culto do mexerico. Mas são gabinetes muito especiais em que os segredos ali revelados têm à partida a intenção de se tornarem públicos; Se não o são de imediato pelo escutar de outrém disfarçado de morto, dias depois aparecerão naquela imprensa escrita tão peculiar cravada nas portas, pelas paredes. Não nego que me ocupa o espirito enquanto o corpo se dedica a outras actividades mais bárbaras. Foi precisamente num desses momentos de elevada introspecção que passei a desempenhar o outro papel, ou seja, o do morto. Do outro lado comentava-se a façanha de um dito chefe. Que brilhantemente chegara a essa posição dada a sua situação civil, mais que um casamento, um investimento. A esposa era o crâneo, todos sabíam, e embora estabelecida nas artes domésticas ela é que era a inteligente, a visionária, o poço de conhecimentos e instruções. Mas feínha, feínha como a noite dos trovões.Por detrás de um grande homem há sempre uma grande mulher. Não me contive e ri-me baixinho, como um rato contente que surripia o queijo. A conversa interrompeu-se de imediato. Por detrás de muita gente há sempre tanta dor de cotovelo...

1 comentário:

Alberto Oliveira disse...

... nas casas de banho, demoro-me o tempo suficiente para fazer as necessidades e lavar as mãos. E ala moço, que nos tempos que correm é preciso estar com um olho no burro e outro na ferradura...

beijos e sorrisos.