Ex


Não há condição mais estranha do que ser ex. Ex-qualquer-coisa.
Só o facto de ser qualquer-coisa já é ex. Passado. Foi-se, não se é mais.
Porque não se foi categorizado para o ser por mais tempo, porque se encheu a fartura de se ter sido e estado, porque é um estádio que não dá lugar a adjectivo vitalício.
No fundo somos todos ex. Ex-crianças, ex-adolescentes, ex-sonhadores, ex-amantes.
É quase como coçar e não chegar lá... quase, quase.
Hoje apetece-me que alguém use das suas mãos, levemente em gancho, suavemente em pata, delicadamente riscando as minhas costas. Mais para o meio, onde sabe bem sentir coçar.

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