Frutos maduros



Ouço muito as pessoas a queixarem-se da falta de tempo. Até eu. O tempo entala mas também premeia. Hoje apetecem-me coisas que dantes condenava. Permito-me a actos e palavras que dantes evitava por os considerar quase obscenos, uma transgressão ao social e expectável. Acho que perdi aquela vergonha do parecer mal e parece-me muito mal se tenho apetites e não os satisfaço. No fundo, quando se morre perde-se tudo: a vergonha, as carnes, o desejo, os apetites e ninguém os há-de cumprir por mim. Então, coma-se o fruto antes de se estragar pendurado até à queda, que deste só se recebe um chuto para se afastar o mosquedo que acaba sempre por atraír.