Da pílula da felicidade



Há algumas mulheres que a partir de certa altura das suas vidas se apagam. Desligam-se. Funde-se a lampada interior e progridem na vida numa penumbra de apalpadelas e tropeções. Queixam-se de ingratidão. Penso que da vida. Do facto de terem sido esquecidas por uma central eléctrica que as alumie em substituição do black out total que fizeram. Envelhecem cheias de olheiras das noites em que esperam e do choro quase silencioso e condenado de as deixarem a dormir sózinhas. Mas não se lembram que muita dessa escuridão foram elas que procuraram. Deixaram de achar graça ao riso, aos homens, ao serem bonitas. Sofrem continuadamente de uma enxaqueca da vida, perdendo-se em pharmácias quando afinal o comprimidinho da felicidade está algures, à solta, dentro dos bolsos de si mesmas.

1 comentário:

o Reverso disse...

"...porque não sabem que as cidades que se rodeiam de muros (ainda que brancos e com árvores) não se tomam sem luta."




d'après "a cidade" de Saramago